sábado, 14 de agosto de 2010
Felicidade é uma coisa estranha
Estar feliz, eufórica, fora de si por alguns minutos gigantescos do dia, sorrir pro nada, ficar linda com qualquer roupa. Deus, como é estranho.
Ela olhou pro espelho encantada com a imagem refletida e fez força. Tanta que quase chorou de verdade. Mas nem mesmo a força conseguiu fazer com que ela enxergasse a si mesma naquela imagem marcada por lápis, rimeis e sombras. Era por debaixo das cores vibrantes que se escondia a mulher que ela guardava tanto no colorido pra poder desabrochar um dia, sem cor, no romance preto e branco que ela sonhava quando fechava os olhos de supercílios.
Dançava desleixada de propósito, pra forjar a emoção inata aflorando por todas as células do seu corpo penso, no meio da multidão de mulheres padronizadas, dançando pé direito-pé esquerdo, suas blusas balonê, suas pulseiras exageradas, seus sorrisos precisamente moderados até a vodka subir pra cabeça arrependida das meninas perdidas.
Ficou pensando, por um tempo, que talvez ela fosse a única das mulheres a gastar muito mais do que as 24 poucas horas de um dia pensando em bobagens. Mas descobriu que, por mais bem resolvida que seja a mulher, por mais pose, por mais que o salto seja quinze e agulha, por mais que o decote não esconda nem a emoção, por mais que o cabelo seja tão liso que deslize os medos, por mais que os olhos sejam tão marcantes que deixem as inseguranças pra depois, enfim, por mais que fossem lindas, seguras e bem decididas, eram ainda assim, mulheres.
Dançava ao ritmo da melodia que desconhecia, mas se entregava às vibrações dentro dela dizendo que, se estava feliz, que assim fosse, que assim estivesse, que não procurasse tanto pêlo em ovo porque, uma hora, acabaria por achar, mesmo, uma peruca inteira. E não era por medos inteiros que, agora, ela estava feliz.
O sem cor, não necessariamente, significava a felicidade - pensava ela -, apoiada pelo blues da tristeza que ela ouvia todas as noites. O azul das vozes doídas e profundas. Ela não agüentava mais sofrer profundo esperando o dia do escuro quentinho chegar.
Dançava por horas seguidas dentro da sua cabeça amargurada pela falta de ritmo das coisas, pela melodia apagada das pessoas, pelos sons perdidos nos silêncios que faziam o mundo girar ao contrário e as pessoas se olharem torto, tanto.
E foi no canto da pista, olhando ao redor dela mesma que ela descobriu que viver não emocionava sempre, mas emocionava muito. E que o importante não era o espetáculo central, as grandes luzes e os passos simétricos. Simetria demais era chato e ela precisava de emoção à flor da pele para continuar rodando.
Dançava circulando sua alegria fugaz, então. E agradecia baixinho dentro de si que os frios na barriga fossem, assim mesmo, atípicos. Viver de borboletas no estômago poderia causar enfarto do miocárdio, e ela, ela ainda precisava rodopiar muito.
Ela olhou pro espelho encantada com a imagem refletida e fez força. Tanta que quase chorou de verdade. Mas nem mesmo a força conseguiu fazer com que ela enxergasse a si mesma naquela imagem marcada por lápis, rimeis e sombras. Era por debaixo das cores vibrantes que se escondia a mulher que ela guardava tanto no colorido pra poder desabrochar um dia, sem cor, no romance preto e branco que ela sonhava quando fechava os olhos de supercílios.
Dançava desleixada de propósito, pra forjar a emoção inata aflorando por todas as células do seu corpo penso, no meio da multidão de mulheres padronizadas, dançando pé direito-pé esquerdo, suas blusas balonê, suas pulseiras exageradas, seus sorrisos precisamente moderados até a vodka subir pra cabeça arrependida das meninas perdidas.
Ficou pensando, por um tempo, que talvez ela fosse a única das mulheres a gastar muito mais do que as 24 poucas horas de um dia pensando em bobagens. Mas descobriu que, por mais bem resolvida que seja a mulher, por mais pose, por mais que o salto seja quinze e agulha, por mais que o decote não esconda nem a emoção, por mais que o cabelo seja tão liso que deslize os medos, por mais que os olhos sejam tão marcantes que deixem as inseguranças pra depois, enfim, por mais que fossem lindas, seguras e bem decididas, eram ainda assim, mulheres.
Dançava ao ritmo da melodia que desconhecia, mas se entregava às vibrações dentro dela dizendo que, se estava feliz, que assim fosse, que assim estivesse, que não procurasse tanto pêlo em ovo porque, uma hora, acabaria por achar, mesmo, uma peruca inteira. E não era por medos inteiros que, agora, ela estava feliz.
O sem cor, não necessariamente, significava a felicidade - pensava ela -, apoiada pelo blues da tristeza que ela ouvia todas as noites. O azul das vozes doídas e profundas. Ela não agüentava mais sofrer profundo esperando o dia do escuro quentinho chegar.
Dançava por horas seguidas dentro da sua cabeça amargurada pela falta de ritmo das coisas, pela melodia apagada das pessoas, pelos sons perdidos nos silêncios que faziam o mundo girar ao contrário e as pessoas se olharem torto, tanto.
E foi no canto da pista, olhando ao redor dela mesma que ela descobriu que viver não emocionava sempre, mas emocionava muito. E que o importante não era o espetáculo central, as grandes luzes e os passos simétricos. Simetria demais era chato e ela precisava de emoção à flor da pele para continuar rodando.
Dançava circulando sua alegria fugaz, então. E agradecia baixinho dentro de si que os frios na barriga fossem, assim mesmo, atípicos. Viver de borboletas no estômago poderia causar enfarto do miocárdio, e ela, ela ainda precisava rodopiar muito.
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