sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O túnel

Aí sentei-me e chorei. A água suja, embaixo, me tentava constantemente: para que sofrer? O suicídio seduz por sua facilidade de aniquilação - em um segundo, todo este absurdo universo demorona como um gigantesco simulacro, como se a solidez de seus arranha-céus, de seus encouraçados, de seus tanques, de suas prisões, não fosse mais do que uma fantasmagoria, sem maior consistência que os arranha-céus, encouraçados, tanques e prisões.
A vida aparece à luz deste raciocínio como um vasto pesadelo, do qual, entretanto, a gente não se pode libertar com a morte, que seria, assim, uma espécie de despertar. Mas, despertar para onde? Essa irresolução de arrojar-me ao nada absoluto e eterno tem me detido em todos os projetos de suicídio. Apesar de tudo, o homem é tão apegado à existência que prefere finalmente suportar sua imperfeição e a dor causada pela sua hediondez a aniquilar a fantasmagoria com um ato de autodeterminação. E sói resultar também que, quando chegamos a fronteira do desespero que precede o suicídio, por haver esgotado o inventário de tudo quanto há de mal e haver chegado ao ponto em que o mal é insuperável, qualquer elemento bom, por menor que seja, adquire um desproporcionado valor, termina por fazer-se decisivo, e nos aferramos a ele como nos aferraríamos desesperadamente a qualquer ramo ante o perigo de rolarmos num abismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário