sábado, 12 de março de 2011

Jogador

Estou perdida em meio a um turbilhão de pensamentos e sentimentos. Confusa entre querer e não querer. Entre poder e não ter. Começo a ficar irritadiça, como se eu tivesse medo de apanhar para mim essa responsabilidade. Ah, o amor. O amor existe de várias formas, mesmo sem ser percebido ele está sempre presente em minha vida. Mesmo negado. Mesmo com a duração de um suspiro. Contudo, exigente que sou, penso sempre em abandoná-lo. Sou fraca e não suporto. Sou forte e o engano. Talvez ele não seja para o meu bico e eu o troco sempre de corpo, de rosto, de cama.
Outro dia me peguei rabiscando um nome no caderno: “mas não é possível”, me recriminei na mesma hora. O que eu penso que estou sentindo. Declarar não é permitido. Que se chafurdem os outros nessa lama prazerosa, sem fundo, que não dá pé nem para mim e nem para ninguém. Eu prefiro não me meter com o que eu não conheço.
Fecho os olhos. A ansiedade já cortou todas as minhas unhas. A sala está vazia e o dia lá fora brilha. Eu estou tentando mudar o foco do meu pensamento. Costumava ser boa nisso. Só abrigava pensamentos que me traziam bem estar.
- Qual é o tom?
- O tom do som ou o tom da pele?
- O tom dos olhos!
- Não prometem...
- Mas que diabos, menina. Nem falsas promessas você recebe e está aí, se contorcendo nessa agonia.
- As coisas aconteceram com naturalidade.
- Desde quando?
- Perdi as contas.
- Saia já e vá ver a noite!
Escrevo nessas linhas com esforço. Quero discar o número do telefone que eu sei de cor. Mas não estou com saudade. Não vivo um romance. Não estou participando de um jogo, jogador, entenda isso. Tenho medo de ser rejeitada como um tomate defeituoso. Tenho medo de não me perdoar por poder me mandar hoje e agora e, mesmo assim, querer insistir mais uma semana. Essa não é mais uma história de paixão, é um desabafo. Um texto de não amor. De não espera. Um texto que nasce do estômago. Quero vomitá-lo e ficar livre outra vez.
- Enfia o dedo na garganta!
- Não sei se é a hora. Talvez eu possa desfrutar mais um pouco, talvez, na próxima semana, não seja tarde demais.
- Já é tarde. Você está com os olhos mais bonitos da cidade.
E ele tem o sorriso mais bonito da temporada. Ele tem os olhos verdes e o cabelo mais macio do que o meu. Vezes ele gargalha tão gostoso, parece uma criança. Vezes ele tem uma postura firme e uma voz grossa compatível com os trinta anos que já viveu. Vezes eu tenho vontade de sair correndo porque pela primeira vez eu encontrei um que conhece e joga o meu jogo.
Eu sinto repugnância por ele ser tão esperto. Odeio a sua segurança. Odeio acordar tantas vezes no meio da noite com seus beijos leves e odeio mais ainda quando ele, segurando as minhas mãos enquanto dorme, cola o nosso corpo despido, porque esse gesto é excessivamente romântico e isso não é um romance. Odeio quando mulheres peitudas o olham desavergonhadamente e então ele me puxa para perto dele pela cintura, como quem diz que não é só, porque isso me faz sentir ridícula e feliz. Odeio a família dele por ser super simpática e ter me acolhido tão bem. Odeio o fato de eu ter passado os últimos quatro finais de semana na sua casa com minha trouxinha de roupa e ainda achar que preciso de mais um mês pra colocar um fim nesse não namoro.
Onde agora? Onde? Olho esse retrato e quero saber se perdi minha segurança nas suas pernas ou nas suas palavras. Ainda sequer sei quem aqui dá as cartas. Como seu charme se chama?


Ê, jogador, ou eu te conquisto ou você me devora.

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