quarta-feira, 7 de julho de 2010
Com o coração nas alturas
O problema de sumir é que quando a gente volta tem que explicar o sumiço. E explicar o sumiço dá muito trabalho, você sabe. Como hoje estou um pouco exausta, podemos pular essa parte? Faz de conta que continuo vindo sempre aqui, que temos conversado sobre a vida, o trabalho, a ginástica, as crianças, o curso, o vizinho, o gato, a depiladora nova. Faz de conta que temos trocado confidências, que o tempo não passou, que os cabelos não estão ficando brancos, que o sorriso de hoje é o mesmo de 10 anos atrás, sem nenhuma marquinha na boca, sem nada estranho que lembre que o tempo passa. E como passa. O tempo passa muito, passa rápido, passa rindo da gente e dizendo ei-vem-embarca-sobe-aqui-não-finge-que-não-me-vê-não-perde-o-trem.
Meu pensamento fervilha. O coração fica a mil. As ideias dão saltos mortais. As emoções giram no sentido horário. Será que vou dar conta? Casa nova, livro embaixo do braço, persiana, tapete egípcio que custou uma fortuna, planta que ainda não foi batizada, está sem nome, coitada. O que fazer quando você tem tudo nas mãos? O que fazer quando seus sonhos viram verdade? Você acha o amor da sua vida, você e ele se juntam, vão ao cartório, assinam uma declaração de união estável que diz que agora vocês vivem como marido e mulher e que, segundo as leis, constituem uma família. Nós somos uma família. Uma família. Nós, o tapete egípcio, a planta que ainda não foi batizada, a persiana nova, a nossa horta que tem manjericão, hortelã, cebolinha, salsão e tomilho. E todas as nossas outras coisas, nossas caixas, nossos restos, nossos começos, meios e finais. Nós e nossas manias, nossos sucessos, nossos fracassos, nossos defeitos que ficam na fronha, nossas qualidades que fazem os olhos ter mais vida. E eu olho para você enquanto você dorme e mexo no seu cabelo bem de levinho pra não te acordar e chego mais pra perto de você e te abraço e você acorda e sorri e me abraça e me envolve com seus braços e eu sorrio e suspiro e finalmente durmo e sonho com uma vida que já existe e é bem viva. Hoje, aqui, agora, na hora
Eu sofri. Meu Deus, como eu sofri com amores errados, ilusões, migalhas, coisas que achava que eram e nunca foram, paixonites enlouquecidas, vontades desesperadas. Eu posso dizer para você com todas as letras do alfabeto eu-sofri-muito. Hoje, vejo que sofri me procurando. É porque hoje percebo que a gente só encontra o amor depois de se achar. Ou pelo menos de tentar se encontrar. Eu estava em paz, uma paz boa, uma vontade de ficar comigo, de ser minha amiga, de fazer dar certo essa relação difícil que existe entre nós e nós mesmos, de cuidar bem de mim, de tomar conta da minha vida do jeito certo. Então, ele apareceu. Ele apareceu na minha vida de mansinho. Eu apareci na vida dele devagarinho. Nós aparecemos na vida um do outro, sem pedir nada, sem cobrar nada, sem dizer nada. Depois, as palavras. Elas, que me seduzem. Elas, que me envolvem. Elas, que me aproximam. Foram as palavras que me aproximaram dele. E foram elas que me conduziram até o amor da minha vida. Entre uma palavra e outra, uma inquietação. Entre uma inquietação e outra, a curiosidade. Entre uma curiosidade e outra, um medo. Será? Entre um será e outro, um relâmpago chamado coragem. Fui. Ele veio. Nós fomos. Daquele dia em diante, não ficamos um dia sequer sem nos falarmos, seja por telefone, e-mail, mensagem, telepatia. Entre uma conversa e outra, um sentimento. Entre um sentimento e outro, o amor e, com ele, a definição. Sim. Sim. Sins.
De lá pra cá, dois anos e quatro meses. De lá pra cá, descobertas, caminhos, tropeços, quedas. De lá pra cá, medos, receios, verdades. De lá pra cá, nós. O amor é mesmo maluco. Ele vem quando estamos distraídos. Ele chega quando menos precisamos dele para nos mostrar o quanto somos mais felizes junto com alguém. Já vivi situações em que ele podia ter ido embora. Já senti o medo de perder tudo um dia. Já fiquei me perguntando como tudo isso seria. Vi que, independente de tudo e acima de qualquer coisa, o amor é um sentimento que vive em mim, que caminha ao meu lado, que me acompanha aonde quer que eu vá. Não posso me perder dele, tampouco abrir os dedos e deixar que ele se vá. É por isso que eu acho que a gente deve cuidar de quem ama como se fosse a primeira vez. Não dá para deixar o costume e a rotina entrarem de sopetão. Para amar, tem que ser inteiro. Para amar, a gente dispensa a matemática, por mais que um mais um seja dois. Para amar, o bom português basta. É só abrir o coração e boca e dizer eu te amo.
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Clarisse Corrêa
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