quarta-feira, 7 de julho de 2010
Matei meu amor.
Raios não caem duas vezes no mesmo lugar. Às vezes. Na minha casa caíram e assim convivi com dois homicídios, de pessoas próximas, no período de minha infância. Tenho, portanto, intimidade com o assunto. Mais do que isso, conheço-o profundamente já que tive de compreendê-lo para sobreviver. Nada alivia tanto quanto o entendimento minucioso dos fatos que levaram a uma dor - como em tudo, só o conhecimento traz a cura. Cheguei ao requinte de compreender melhor os crimes a minha volta do que as pessoas que os praticaram. O assassino passional não sabe porque matou e é um erro recorrente nos tribunais querer arrancar motivos de seus réus. Eles não os tem. Destroem o núcleo de suas vidas, o grande amor e a razão de tudo, e depois choram em cima de seus cadáveres por pena de si e pela falta do objeto amado. É um processo irracional. É tb autodestrutivo. Tanto assim que, via de regra este homicida não foge do local de seu crime, mas fica ali, não tendo mais a perder, para ser preso em flagrante. A criatura que mata por amor é alguém cuja necessidade de paixão chegou a níveis obsessivos. Ali, há um ser apaixonado, ávido de afeto e incapaz de renuncia. A pessoa pensa sem parar numa única coisa, na impossibilidade de ter o outro como ele precisa que o outro seja, na traição, ou em sua eventualidade. Fantasias obscuras lhe entopem a cabeça, e não há ser sobre a terra que consiga viver com uma só idéia a lhe atazanar dia e noite, na rua, no trabalho, por toda parte, a toda hora. A tormenta chega a um ponto de ruptura que, dali, um mínimo detalhe leva a matar.
Além do mais, há pessoas que só sabem amar na tensão, vivem às turras e assim se realizam. O sentimento tranqüilo e pacífico que para tantos é a forma ideal, para estes nada significa - o amor tem faces múltiplas e há aspectos que vêm com a violência embutida . Nesses casos os homens tendem a ser mais agressivos. Eles batem, espancam e se portam de forma primária. A mulher, mais sutil, observa, e, intuitiva, aprende por onde atacar. Ela finge que trai, provoca, pede dinheiro que ele não tem pra dar, fere-lhe o orgulho e vai levando o parceiro à exasperação. Aí ele bate, machuca, e por aí vão anos de amor e dor. Até que um dia...
Qual o ser vivo por mais bondoso que já não pensou na morte de uns vinte? As crianças pensam. Todos nós pensamos. No trânsito, no trabalho, nas discussões com o parceiro. O homicida ocasional não é um homem ruim, mas alguém que viveu um tumulto interior gigantesco e por ali desviou de si. Ele pode ser bom sujeito, honesto, trabalhador, pai carinhoso. Não voltará a matar e representa muito pouco perigo pra sociedade. Deve ser punido porque em seu desvario amputou a vida de alguém e espalhou sofrimento a sua volta, mas deve tb, e pode, ser compreendido. É estranhíssimo, e dificulta a compreensão saber que esta criatura não sente remorsos. A idéia de que o assassino vive numa tortura interna que lhe devora o espírito, é totalmente equivocada. Em seu mundo subjetivo ele (ou ela) tinha razões pra fazer o que fez. Vc, com sua ética, não consegue perdoá-lo, mas o homicida não vive sequer a questão do perdão. A coisa está feita, e os limites que rompeu ao praticá-la estavam amarrados na mesma praia onde ele hoje reencontra as justificas que permitem-no seguir vivendo. O que outrora serviu de motivação emocional para matar, hoje é um raciocínio lógico de seu universo íntimo. Então, eu considero que se esta pessoa não assassinou por motivo fútil, ela merece ser vista à clareza das imparcialidades. Por ter me autotreinado nisso a vida inteira, aprendi que para se julgar um gesto apaixonado é preciso muito desapego. E que há de se ter compaixão, pois com ela, não só este crime, mas qq transgressão humana pode ser compreendida. Não há nada mais primário e mesquinho do que enxergar os atos alheios pelo ângulo exclusivo da acusação. Não se deve pensar, aquele fez mal à minha filha. Pense antes, minha filha fez mal a alguém. Aí jogue o preconceito no lixo, abra seu coração, encha o espírito de benevolência, e só então comece a julgar tudo aquilo que não compreende.
Além do mais, há pessoas que só sabem amar na tensão, vivem às turras e assim se realizam. O sentimento tranqüilo e pacífico que para tantos é a forma ideal, para estes nada significa - o amor tem faces múltiplas e há aspectos que vêm com a violência embutida . Nesses casos os homens tendem a ser mais agressivos. Eles batem, espancam e se portam de forma primária. A mulher, mais sutil, observa, e, intuitiva, aprende por onde atacar. Ela finge que trai, provoca, pede dinheiro que ele não tem pra dar, fere-lhe o orgulho e vai levando o parceiro à exasperação. Aí ele bate, machuca, e por aí vão anos de amor e dor. Até que um dia...
Qual o ser vivo por mais bondoso que já não pensou na morte de uns vinte? As crianças pensam. Todos nós pensamos. No trânsito, no trabalho, nas discussões com o parceiro. O homicida ocasional não é um homem ruim, mas alguém que viveu um tumulto interior gigantesco e por ali desviou de si. Ele pode ser bom sujeito, honesto, trabalhador, pai carinhoso. Não voltará a matar e representa muito pouco perigo pra sociedade. Deve ser punido porque em seu desvario amputou a vida de alguém e espalhou sofrimento a sua volta, mas deve tb, e pode, ser compreendido. É estranhíssimo, e dificulta a compreensão saber que esta criatura não sente remorsos. A idéia de que o assassino vive numa tortura interna que lhe devora o espírito, é totalmente equivocada. Em seu mundo subjetivo ele (ou ela) tinha razões pra fazer o que fez. Vc, com sua ética, não consegue perdoá-lo, mas o homicida não vive sequer a questão do perdão. A coisa está feita, e os limites que rompeu ao praticá-la estavam amarrados na mesma praia onde ele hoje reencontra as justificas que permitem-no seguir vivendo. O que outrora serviu de motivação emocional para matar, hoje é um raciocínio lógico de seu universo íntimo. Então, eu considero que se esta pessoa não assassinou por motivo fútil, ela merece ser vista à clareza das imparcialidades. Por ter me autotreinado nisso a vida inteira, aprendi que para se julgar um gesto apaixonado é preciso muito desapego. E que há de se ter compaixão, pois com ela, não só este crime, mas qq transgressão humana pode ser compreendida. Não há nada mais primário e mesquinho do que enxergar os atos alheios pelo ângulo exclusivo da acusação. Não se deve pensar, aquele fez mal à minha filha. Pense antes, minha filha fez mal a alguém. Aí jogue o preconceito no lixo, abra seu coração, encha o espírito de benevolência, e só então comece a julgar tudo aquilo que não compreende.
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