sábado, 14 de agosto de 2010

Amor que não se pede

Em algum lugar do mundo, agora mesmo, existe alguma mulher qualquer sentada na beira de sua cama, tentando entender porque as palavras que ele diz tem de machucar tanto, porque os planos dos primeiros meses acabam no final deles e em como viver em função de alguma outra pessoa – que não ela mesma – pode ser a coisa mais frustrante do mundo. Quanto mais altruísmo, menor o amor próprio e assim vai. A verdade é que nada nunca pode mesmo estar perfeito em todos os sentidos possíveis porque, é óbvio e batido, mas perfeição não existe. Blá blá blá.

De noite quando ele fechava os olhos e dormia em questão de segundos, ela permanecia com os dela intactos, abertos, esperando um motivo pra então respirar aliviada e dormir de peito leve. Fazia tanto tempo já que não era assim. Mas não adiantava. Sua noite era corrida e atropelada por tudo aquilo que ela sentia de errado e, mesmo tendo tentado explicar tanto, acabou ficando ali preso a ela e tão somente a ela. A sensação horrível de clausura por saber que por mais que se faça por merecer nada vai mudar enquanto a outra pessoa simplesmente julgar que não é aquilo que ela merece. Tão absurdo – e tristemente verdadeiro – que foi ela mesma que colocou nas mãos de outra pessoa todas as coisas que poderiam determinar a sua própria felicidade.

Ficou lembrando de quando ela tinha um plano de vida em que o amor era incluído, mas não era necessariamente o núcleo central da trama. De quando meia hora de lágrimas era absurdamente muita coisa comparada à importância que qualquer pessoa pudesse vir a ter na vida dela. Não, não entenda errado. Essa mulher amou com tudo o que podia sempre que teve uma oportunidade. Ela abriu os braços e fechou os olhos para se jogar na vida sempre que pôde, sempre que sentiu que podia. Ela se escondeu em becos, ela gritou de madrugada, ela deu risadas tão escandalosas que assustaram até mesmo a felicidade histérica dentro dela, ela se arrumou, ela se desarrumou, ela vestiu a fantasia da vez e fez valer a pena pra ela, porque era ela quem importava. Ela viveu os momentos e, quando sentiu que era o caso, sofreu pra se curar do que doía ali dentro. Sem culpa por ser quem ela era e estar passando pelo que estivesse passando naquele momento.

Mas, antes dele, ela jamais havia aberto mão de nenhum sonho dela por ninguém. Sonho nenhum porque, talvez, quando ela o conheceu, ela julgou que todos os sonhos que ela pudesse ter tido até aquele exato momento, estavam sendo realizados. E ela rezou baixinho agradecendo por ter tido tanta sorte na vida, como se a luta dela tivesse mesmo acabando exatamente ali, onde começava a participação dele. E esse foi o erro.

O que ela não percebeu lá – e que agora se arrepende tanto – é que alguém sem sonhos é alguém que já morreu. Que alguém que já tem tudo é alguém que não pode conquistar mais nada e que, sem nada pra se querer muito, não se pode ser feliz. O que aconteceu com aquela mulher incrível dentro dela é que ela se perdeu na sombra de um homem, também absolutamente incrível, mas que já não precisava mais de tanto esforço pra fazê-la feliz já que ela, agora meio sem graça, sem ambição e sempre triste, já não tinha mais nada de personalidade pra oferecer a ele.

E enquanto ele respirava forte e profundo no seu sonho tranqüilo, ela continuou de olhos bem abertos no escuro, procurando naquilo que ela não podia ver, a resposta pro caminho que ela teria que tomar, gostando ou não, com medo ou não, sozinha ou não, agora que ela percebeu que embora ela tivesse depositado tudo o que ela sempre foi num amor que deveria ter dado vida melhor à vida dela, tudo o que ela conseguia sentir naquele exato momento era a paralisação de quem, por algum motivo, se deixou fazer morta.

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