quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Blackout

E você se mistura com as luzes - tão brilhantes vistas de cima - e o movimento quase em câmera lenta do seu rosto distanciando-se e adentrando cada vez mais para o ponto movimentado da avenida. E você se mistura com as luzes frias do inverno, bochechas avermelhadas, luvas azuis, luz em forma de círculos refletindo a sua expressão de alguém que esconde segredos da alma. E eu me misturo com as luzes, no ambiente escuro e fechado, mas igualmente mágico como o seu, o meu movimento quase em câmera lenta de um leve sorriso distante, afundando cada vez mais na fé dos sonhos. E eu me misturo com a luz quente do verão, joelhos de fora, fita cor-de-rosa no cabelo, luz em forma de círculos refletindo minha expressão de alguém que segura a folha de um livro, com medo de solta-la pra que se vire completamente, com medo que o peso da gravidade nunca ajude. Um dia as luzes misturaram-se quase juntas, você recorda, eu recordo, um dia as luzes misturando-se quase como fogos de artifícios. Diria então que foi em um dia assim que as luzes surgiram, um dia assim também que as luzes apagaram. Nós? As nossas mãos sim, mesmo que soltas ainda se encaixam completamente naquilo que fazem os pequenos fagulhos elétricos e brilhantes acenderem. Nós? Hora acesos, hora apagados, mas sempre constantes dentro da nossa própria – e única – iluminação. Nós? Pontinhos em branco e amarelo, mais rosa do que azul talvez, vagando pelo mundo imaginário do qual fizemos questão de criar e se manter acesos - mesmo dentro desse imenso apagão.

Apaguei a luz do quarto e sonhei com você.

(Aninha)

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