Ei, não é assim. Desocupei as coisas por aqui. Precisei tanto de você, em algumas noites meu coração doía, meu nariz fazia aquela cosquinha cheia de ardência, aquela de quem não quer chorar e aperta os olhos e reflete no nariz. E meu nariz fica vermelho quando tenho vontade de chorar, mas isso você sabe. Então eu lembrava tanto da sua cara e daquela sua voz rouca que me dizia baixinho "não, não faz isso, tudo menos isso, não chora, não chora" e eu lembrava e a vontade de chorar ia aumentando e eu enfiava a cabeça no travesseiro como se fosse o seu peito e tentava esquecer de tudo. Depois do fim eu tentei ver se tivemos um começo. Você sempre me deixou confusa e eu estava adaptada. Mas não quero, você é irreal. Cada passo que eu dava parecia que te enxergava assim pelo ombro, com aquele olhar apertado e a sobrancelha erguida, meio que guiando os meus passos e servindo de força. Uma força que eu precisava pra viver. Você era parte de mim, um escudo, alguma coisa que eu inventei e que precisava desesperadamente manter. Acho que você nunca soube disso e na verdade isso nem importa pra mim. Você soube de muita coisa e ignorou completamente o saber. No fundo o que importa pra você é o que você quer que importe. E não é errado não. Só que eu tenho uma maneira diferente de lidar com tudo, você sabe.
Eu quis tanto te oferecer alguma paz e, de brinde, meu ombro tatuado com uma estrela pra ser o teu porto seguro. Você simplesmente não sabe o que é oferecer. Essa palavra não bateu na sua porta e se apresentou de maneira polida. É por isso que não pensei em você quando ouvi e vi os fogos, só desejei, no outro dia, de uma forma espantosa, que você realmente fosse feliz e seguisse o seu caminho. Sem a minha paz. Sem o meu ombro. Sem as minhas palavras. Sem a minha estrela. Não estou perdida, ingenuamente me encontrei assumindo que você não existe na minha vida. Se algum dia efetivamente foi sincero, não sei. Não preciso de respostas, achei a causa do nosso não-encontro.
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