quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Ser forte cansa
Madrugadas me lembram você. Deve ser porque a casa fica gelada, paredes ecoam o silêncio, não ouço nada. Tudo fora do lugar, roupas penduradas na cadeira, papéis espalhados pelo chão do quarto. O vazio me incomoda, ligo a televisão. Nada de bom, troco o canal e a agonia cresce dentro de mim. Desconforto. O controle parou de funcionar, levanto a tampinha da pilha, dou três batidas e tento de novo: nada. Jogo o controle longe, afasto você do pensamento. Fico com pena de ter descontado a minha angústia em um objeto necessário, não posso depositar culpas invisíveis nele. Porque existe o amor?, me pergunto. Desisto da tv. Vou passar um café. Cafeína dá insônia, mas nem ligo, não tenho sono, você domina minha mente. Desejo um abraço seu e você está tão longe de mim que meu coração desmancha. On. Ligo o som, adivinha? "o seu amor reluz que nem riqueza/asa do meu destino/clareza do tino/pétala/de estrela caindo bem devagar...". Lembro que amo estrelas. Tatuo estrelas. Dou a mão para as estrelas. Faço pedidos para as estrelas. Hoje chove, cadê as estrelas? Me sinto só. Lembrei da rosa que você esqueceu de me dar. Penso em uma pétala seca dentro de um livro, acho a imagem bonita. Não há nada mais melancólico do que uma pétala de rosa vermelha dentro de um livro mofado pelo tempo. Não há nada mais melancólico do que um livro mofado pelo tempo com uma pétala de rosa vermelha que traz uma lembrança do que não houve. Estou louca. Não sei o que digo, o que penso, o que falo. Sinto. Fecho os olhos e sinto seu cheiro. Meu corpo está quente. Minha pele arrepia. Música é vida. Embarco na melodia. Presto atenção na letra. Meu coração dança. Imagino você chegando com um olhar amanhecido. Entrando com um sorriso inteiro. Cantando num tom desafinado uma música que não tem fim. Um raio percorre cada pedaço do meu corpo, sempre achei linda essa imagem : você com aquele olhar que eu adoro inventar nos meus sonhos. Olhar inventado, barba mal feita, o perfume que é a sua marca. No ar uma expressão convidativa. Convite para uma felicidade que destrói medos e arruma bagunças. E chove. Chove e eu penso em você com os olhos marejados. Você me conhece tanto! Me sinto de uma forma quase boa quando estou ao seu lado. Falta só um pouco: gostaria apenas de me sentir cuidada. Ser forte cansa e preciso sossegar em seus braços e esconder meu rosto no seu peito para finalmente sussurrar no seu ouvido: tenho medo da chuva.
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Clarisse Corrêa
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